terça-feira, 10 de setembro de 2013

Manifesto dos Gaviões da Fiel Torcida

 
Não se enganem, numa sociedade que tolera a miséria, injustiça, analfabetismo, corrupção e que o governo utiliza da própria violência para subjugar o povo dentro das leis impostas, não seria apenas a violência a causa da perseguição sobre as torcidas organizadas; mas sim os interesses escusos que permeiam o futebol moderno.

Os Gaviões da Fiel Torcida representam a resistência do povo nas arquibancadas, a resistência do torcedor de baixa renda e do proletariado. Representamos as tradições da cultura brasileira de torcer, cultura esta, que estão destroçando seguindo um padrão europeu, que no Brasil estão dificultando a possibilidade do torcedor assalariado de freqüentar o estádio de futebol. Convivemos com a violência no nosso cotidiano, não se pode fatiar a violência, quando a violência é um todo, e está presente na realidade do cidadão brasileiro.

O que nos parece é que querem responsabilizar as torcidas organizadas pela falta na educação, que é de responsabilidade de quem recolhe a maior carga tributária do planeta. O que estão cobrando das torcidas organizadas é uma usurpação do dever dos pais que vem do berço. Os Gaviões da Fiel dentro da sua busca pelo ideal da perfeição entende que é preciso que a justiça e a igualdade reinem em meio a este mundo de guerras e violência, talvez a partir daí se consiga pensar num projeto para a paz; enquanto isso tratar a violência com pontos específicos, é na verdade mera hipocrisia de uma sociedade que agoniza diante da sua própria sorte.

Ora! Mas o que é a violência?

Violência é um problema complexo. Alguns defendem que mantemos nossos conceitos e atitudes primitivas até hoje. Sendo essa uma atitude primitiva ou não, é fato que ao longo dos milênios aconteceram diversas barbáries, seja em guerras travadas entre povos, luta pela supremacia das religiões ou indivíduo versus indivíduo. Somos tão competitivos e violentos quanto eles foram, prova disso é que pouca coisa mudou, ainda existindo preconceito, hostilidade entre povos, brigas religiosas e as cruéis e sangrentas guerras urbanas do nosso cotidiano.

Em uma passagem no livro, Leviatã, 1651, Thomas Hobbes, traça uma perfeita análise sobre a violência que não deixa nada a dever aos dias atuais.

“Assim, na natureza do homem, encontramos três causas principais de contenda. Primeiro, a competição; segundo, a difidência; terceiro, a glória. A primeira leva o homem a invadir pelo ganho; a segunda, pela segurança; a terceira, pela reputação. O primeiro usa a violência para se assenhorear da pessoa de outros homens, de esposas, filhos e rebanhos; o segundo, para defendê-los; o terceiro, por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma opinião diferente e qualquer outro sinal de desapreço, ou à sua pessoa diretamente, ou, por reflexo, a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão ou seu nome.”

Algumas formas de violência transformaram-se em ESPORTE, alguns ainda agressivos, mas com regras, e, outros que, não tem vínculo histórico com a agressividade, entretanto, carrega a virilidade, como o FUTEBOL.

Nos mais variados esportes, principalmente no futebol, se ouve muita mensagem de cunho agressivo antes das partidas pela tevê, como: “vai começar a batalha”, “o duelo esta para começar”, “agora é guerra de gigantes” “a arena está preparada, é onze contra onze”.Vejam, todas as falas sugerem violência. Se não soubéssemos que se trata de uma partida de futebol, logo pensaríamos que poderia se tratar de gladiadores em uma arena prontos para matar um ao outro.

A hoje chamada ARENA, antes chamado de ESTÁDIO DE FUTEBOL, nos remete aos antigos campos de batalha. Segundo o dicionário, a palavra Arena vem do latim, que significa "areia" e, na época do Império Romano, os gladiadores lutavam em uma superfície coberta por elas, no intuito de absorver o sangue. Em espanhol, a palavra carrega dois significados. A tourada é realizada em uma arena (ou plaza de toros, literalmente "praça de touros") e seu piso também é coberto com a mesma.

Durante as partidas de futebol, não é difícil ver jogadores trocando socos e pontapés, principalmente em campeonatos Sul Americanos, sendo passado impunemente pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), aliás, para esta confederação, a impunidade é a regra, fazendo com que a violência dentro de campo seja apenas mais um detalhe.

A esmagadora maioria dos comentaristas esportivos brasileiros costuma dizer que os campeonatos Sul Americanos são mais “pegados”, ou seja, mais agressivos, sendo comum ver jogadores agredindo uns aos outros. Ao final de qualquer partida de futebol a polícia corre para cercar o Árbitro e seus auxiliares, mesmo sem qualquer ameaça aparente. Isso sem contar as inúmeras vezes que vemos ao redor dos gramados os mesmos policiais protegendo o cobrador de escanteios. Percebemos neste caso que, por mais que todo ano se comente, e mostre para o mundo todas essas imagens, a repercussão é somente sensacional, mas não combatida efetivamente.

Percebam, tudo ao redor do futebol recomenda violência, como podem exigir que uma pequena parcela de maus torcedores se comportem de maneira exemplar se a mídia, jogadores, presidentes de clubes, federações e confederações, nacionais e internacionais dão o exemplo totalmente ao contrário?!

A violência está por toda parte, é só observar nas ruas. Por exemplo, você não chega até o centro da cidade de São Paulo sem passar por alguma via ou avenida cujo nome é de algum assassino, torturador ou colaborador da Ditadura Militar.

Os jogos de vídeo-game mais vendidos envolvem jogadores carregando armamento que é usado para matar adversários.

Contamos até aqui um pouco da história da violência, mas o que queremos com isso? Nós não queremos justificar a agressividade do torcedor, apenas trazer vocês para uma reflexão, demonstrando para todos vocês que não foi o torcedor que inventou a violência, ela é parte da sociedade, é parte de um todo. Porem, como sempre, toda culpa recai sobre as torcidas organizadas, como se as mesmas tivessem inventado a violência, o que não é verdade, como podem perceber.

Segundo o portal UOL, Marco Polo Del Nero, presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) e vice da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), está envolvido em uma ação da Polícia Federal. ( http://migre.me/en7Kn ).

Ainda segundo o portal UOL, a carreira política do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e do COL (Comitê Organizador Local), José Maria Marin, foi marcada por diversas acusações de irregularidades: caixa dois, utilização da máquina do governo em campanhas, desvios de dinheiro público e armações eleitorais. (http://migre.me/en8Eq ).

Segundo o blog do Juca Kfouri, José Maria Marin, teve ligação com a ala mais radical do governo militar, conexões com órgãos de vigilância e de repressão e fez elogios ao regime. ( http://migre.me/en93U ).

Segundo o jornal Lance, Tanto o presidente da Conmebol, quanto o presidente da AFA, Julio Grondona, estavam sendo investigados por subornos no processo de escolha da Copa do Mundo de 2022. ( http://migre.me/en9cK ).

Ainda segundo o diário Lance, Deputado Romário desabafa: “Conmebol é mais corrupta que CBF e FIFA” ( http://migre.me/fYuxl )

Segundo portal UOL, “Acusado de corrupção, Ricardo Teixeira renuncia à presidência da CBF” ( http://zip.net/brkRJP )

Observe, quem deveria dar exemplo é investigado por vários crimes. Esses são nossos exemplos? Cadê sua indignação enquanto a isso? Hipocrisia também é violência.

Segundo a pesquisadora e autora do livro Futebol e Violência, Heloísa Reis:

“os fatores geradores da violência são vários e complexos, mas pode-se afirmar que a disseminação de uma cultura em que violência e futebol sempre caminharam juntos contribuiu para a disseminação da violência nos estádios e dificulta a sua minimização. A ‘reação simbiótica’ entre esporte e violência não é exclusividade do futebol. Dunning afirma que todos os esportes competitivos conduzem ao aparecimento de agressão e violência (Elias e Dunning, 1992). Mas, por sua popularidade e seus valores masculinos, é no futebol que ela encontra um terreno fértil. É nesse conteúdo cultural que a expressão da violência física socialmente aceita e ritualizada aparece”.

Quem acha que torcedor briga por causa do time está completamente enganado, em nenhum lugar do mundo torcida briga por causa do time, brigam porque gostam de brigar. Em países da Europa também briga-se porquê gosta de brigar, mas lá o costume é se esconder atrás de brigas políticas e/ou históricas como vimos na EUROCOPA – 2012 ( http://migre.me/en6BV ). Em solo Sul Americano, as brigas são fruto da influência do hooliganismo europeu que, nos anos 80 se intensificaram. Hoje já faz parte do cotidiano de quem gosta desta prática, mas uma coisa é certa, NINGUÉM BRIGA POR CAUSA DO TIME, BRIGAM PORQUE GOSTAM DE BRIGAR.

O cara que briga em dia de clássico é o mesmo que briga na escola, faculdade, balada, show, shopping, igreja, em casa, na rua, em qualquer lugar. Isso é um problema social, são pessoas que gostam de adrenalina e onde quer que estejam se houver confusão eles estarão no meio. Afirmamos para vocês, podem tirar camisa, bandeira, faixa, fazer jogo de uma torcida só, sempre haverá briga. Haja o que houver, faça o que fizer, as brigas continuarão, por quê? Porque isso é problema social e tem que ser tratado como tal, as torcidas organizadas nada têm a ver com isso.

Fazemos o que está ao nosso alcance, trabalhamos junto com a Policia Militar e Ministério Público constantemente para evitar que as torcidas se encontrem pelo caminho, obedecemos à risca todas as instruções passadas e mesmo assim quando acontece alguma briga em algum lugar da cidade bem distante de nossa sede e estádio, a culpa ainda fica para nós.

Não conseguimos entender essa política de opressão contra as torcidas que o Estado mantém até hoje. Colaboramos, fazemos o possível para evitar a violência e, mesmo assim, continuamos sem poder fazer nossas festas nos estádios (ou Arenas como queiram).

Proibiram nossas bandeiras em 1995 e de lá pra cá a violência só aumentou, continuaram a proibir tudo com relação à festa na arquibancada e a violência ainda é a mesma. Está claro que o problema não são as torcidas organizadas e sim o indivíduo, proibir as torcidas de fazer suas festas dentro dos estádios não reduz a violência nas ruas, uma coisa não tem nada haver com a outra.

Seguindo a lógica do Ministério Público, caso aumente o número de roubo a carros, eles proibiriam a venda dos mesmos, ou seja, não iriam atrás de quem rouba. Percebam o quão ineficiente é o Poder Público, eles não vão atrás do indivíduo, da pessoa física, do CPF. Punem a entidade inteira, como se TODOS os sócios dos Gaviões ficassem por aí fazendo baderna pela cidade, quando na verdade a própria PM e MP dizem que são “meia dúzia”, na maioria das brigas alegam que são em torno de 100 a 200 pessoas envolvidas, temos quase 100 mil sócios, ou seja, não chega próximo de 1% da torcida, isso se realmente forem sócios dos Gaviões, pois muitos se quer pertencem a organizada alguma e mesmo assim a culpa recai sobre nossos ombros.

Quando algum político comete desvio de conduta, se discute a extinção do congresso? Ou eles vão atrás do indivíduo que praticou o desvio? Isso quando não continuam exercendo suas funções mesmo depois de condenados. Se em casos de tal gravidade, pois estamos falando de saúde, educação, transporte, moradia, que se tornam códigos em paraísos fiscais, só quem praticou o ato é punido, e a classe inteira não pode pagar pelos atos de um de seus membros, esta mesma lógica deveria funcionar também para as torcidas organizadas. É como se servíssemos de bodes expiatórios, atrapalhamos o processo de elitização e a entidade inteira sempre levará a culpa, sempre!

Mesmo diante deste quadro, continuaremos a colaborar com o MP e PM, a tratá-los com respeito, indo a todas as reuniões antes dos jogos e avisando aos mesmos de todos os pontos da cidade onde possa haver confusão, fazendo tudo que estiver ao nosso alcance no intuito de acabar, ou minimizar ao máximo, a violência.

O Gaviões da Fiel é mais que uma torcida organizada, é um braço da sociedade. Lutamos contra a Ditadura, abraçamos diversas causas sociais, levantamos bandeiras em busca de uma sociedade mais igualitária. Esta é nossa briga, essa é a luta dos Gaviões da Fiel.

Segundo a pesquisadora e autora do livro, Futebol e Violência, Heloísa Reis:

“Torcidas organizadas agora recebem o rótulo de "facções". É uma clara tentativa de relacioná-las ao mundo do crime, como se todas as suas atitudes fossem ilícitas. Mas a realidade é diferente. O torcedor organizado não é bandido. Ele trabalha (a média de desemprego nas torcidas é de 2,8%, em comparação com os 8,1% da média brasileira), mora com os pais (86,8%) e tem um significativo grau de instrução (80,8% possui de 10 a 12 anos de escolaridade).

Esses números fazem parte do resultado de uma pesquisa que realizei com 813 integrantes das três maiores organizadas de São Paulo. São dados que desmentem a visão de que seus filiados são vagabundos que se associam para o crime. Costuma-se generalizar, mostrando que as mortes que ocorrem no futebol têm a ver apenas com as torcidas. Não é verdade. Por isso, pregar a extinção das organizadas para estancar a violência é a mesma coisa que defender o fim do Senado para acabar com a corrupção.” (grifo nosso)

Sempre ficou bem claro - tanto para a sociedade, quanto para o Poder Público - a posição dos Gaviões da Fiel no que tange a violência. Repudiamos quaisquer tipos de violência, inclusive a violência do aumento abusivo nos valores dos ingressos e a exclusão do torcedor de baixa renda dos estádios com o processo de ELITIZAÇÃO DO FUTEBOL.

Sim! O aumento exorbitante no preço do ingresso é uma violência. Violência contra aqueles que sustentaram o futebol até hoje e que não conseguem mais acompanhar o ritmo super-ultra-inflacionário no qual a FPF (Federação Paulista de Futebol) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol) impõe, sem compaixão alguma, tirando, assim, uma das quase nulas opções de lazer do cidadão de classe menos favorecida.

O tema violência tem que ser tratado de forma responsável, não como vem sendo feito, simplesmente jogam no colo das torcidas organizadas a problemática da violência e da desordem do futebol. Não se muda uma cultura de violência de uma hora pra outra, muito menos deixando o estádio sem divisória assim do nada, porque o que vimos nos últimos jogos foi uma violência padrão FIFA. Não podemos encarar a violência no futebol apenas como palanque para autoridades e jornais sensacionalistas.

Parafraseando com um de nossos integrantes, Thomas Castilho: Sendo assim, vamos falar de paz de gente grande. Vamos falar de uma paz que envolva os diferentes protagonistas do processo, delegando responsabilidades e cobrando respeito, de todas as partes. Não se exige paz numa cultura de violência mas se constrói a paz. Não se faz paz com uma pseudo-imprensa que legitima a ação violenta da polícia, que fica eufórica sempre que pode apontar seus dedos para os torcedores. Não se faz paz com direitos básicos sendo desrespeitados. Não se faz paz sem punição. E, mais importante, não se faz paz sem tentar mudar a mentalidade e os valores da nossa sociedade. Isso exige educação. E educação exige empenho.

O povo organizado incomoda, sempre. O receio maior é pela força que ali se esconde. Sim, muitas vezes mal direcionada, mal administrada. Mas ainda assim poderosa. Vai chegar a hora em que as torcidas entenderão o poder que possuem para transformar a realidade do nosso futebol e, juntas, utilizá-lo para lutar por preços de ingressos justos, por administrações competentes, por estádios que não desabem, por uma polícia humana, por uma imprensa digna, e por um modelo de futebol que seja mais condizente com a realidade do nosso país, que possui milhões de párias espalhados, esquecidos, enquanto o dinheiro e as páginas dos jornais só atingem a vida de meia dúzia de personalidades. A paz dos justos é responsabilidade de idosos, adultos e crianças, de homens e mulheres, de dirigentes, policiais, jornalistas e torcedores, organizados ou não. A paz dos justos é de ricos e pobres, não só dos ricos. A paz dos justos quer não só um futebol diferente, mas um país.

Quando falamos de justiça, queremos que a sociedade se organize de forma que a paz esteja ao alcance de todos, e não que a chamada “justiça” seja apenas uma forma de intimidação e negociatas para que poucos possam comprá-la.

O que os GAVIÕES DA FIEL quer dizer com tudo isso, senhores, é que JUSTIÇA gera PAZ

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